Wednesday, March 29, 2006

CLAIR DE LUNE

Uma noite, sim...Uma noite... houve... faz tempo... (graças à Deus faz tempo)... Um homem, pouco mais que um menino, destes assim que só às revoluções lhes foi cunhado a natureza e o sangue e a estirpe...

Última chance a ele havia... chance derradeira de livrar-se com vida... disso ela não sabia... Mas chance também, somente nesta noite existia de com ela estar por uma noite apenas, mas com ela... noite mirando o luar e as estrelas, lado a lado, corações batendo tão forte tão perto, naquela noite assim tão fria...

Paris... que Debussy traz... clair de lune... aquela mesma doce lua... destilando flores de alegria... prazer... sim, um prazer que só os tão longos anos sem vê-la poderiam trazer, um prazer que só sente quem tanta saudade sente que nem sabe mais se existente ainda aquela de quem falta...

Salvaria sua vida... do aço frio da guilhotina, se somente olhasse a linda menina... e a abandonasse de repente... de novo... e dali, na mais sensata das despedidas, fugisse, sumisse, como tão bem sabia... mas... ah.... essa menina, como posso deixá-la hoje? como pude deixá-la um dia? Sim sim lua... sabia por que a deixaria... como soube naquele dia em que o próprio Amor lhe dizia: Salva esta outra que é de outro uma filha querida! Salva! Por favor! Sim, respondeu assim com sempre responderia, o insensato rapaz, menino quase ainda... salvaria sim, um dia... mas não foi naquela hora ainda que isso aconteceria... Uma vida mais, duas, três, não sei quantas ainda teria de gastar nessa dolorosa agonia de a sua própria linda menina, abandonar... sim... lua...

Mas naquela noite não! Sabia... ela é que ali estava, como sempre compreendendo-lhe inteiramente... de alma, mente e corpo inteiro compreendendo todo o mistério como ela mesma somente... poderia...

Menos que seria este o fatal erro daquele homem, pouco mais que um adolescente... a saber-se então já morto, pelas horas que do dia já ia, por saber-se entregue à fina lâmina daquela triste guilhotina, que os homens levantam, para dizer-se bons homens...

- Vou-me embora... já volto já...
- Vai para onde, hoje? (com sorriso dizia)
- Vou para o campo, e de lá volto quando tudo se acalmar...

Bem sabia ele que outra coisa lhe sucederia... de lá foi direito para as outras mãos... as mãos dos homens bons, que sua garganta tanto desejariam, como sempre desejaram e ainda desejam... calar! Viu-o nesta triste agonia aqueloutra filha d’outro, a por quem boa parte disso vivia, e soou a seus ouvidos a ordem assim ríspida, de quem seu irmão um dia... numa outra vida... ainda seria, e a Lâmina! rápida e certeira despencou dos céus, para onde quem sabe... um dia... a alma daquele menino, pouco mais que um homem, ainda iria...

Mas alma assim leve e agradecida, sim, pois se os bons homens a vida lhe tiram, não... nunca mais lhe tiram a vida... ela leve e solta no ar... no silêncio da hora fatal, em que tudo é tristeza, em que tudo é sacrifício, seu coração assim leve aos ares ia... leve sim por ter finalmente, visto, beijado e dormido e acordado... com quem sua vida toda, por toda a eternidade e para sempre... salvaria...

(Isso assim se assina: AQUELE QUE SABE, E HOJE EM PAZ, SABE QUE SABE)

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