Tuesday, April 25, 2006

Melancolia outonal

A natureza se preparando para morrer
Folhas caídas em outros lugares
Aqui a alma secando sem querer secar
Frio que vai penetrando a alma gelando a fábrica de sorrisos
Frio outonal mostrando como é triste viver sem você

Mesmo que sempre foi assim nesse frio
Às vezes sofrendo sem você outras com alguém
Mas querendo um querer simples tão simples que parece nem a mão perceber
Que vai escorrendo pelas mãos sempre sem querer
Nem as fogueiras querem mais nos aquecer
Ou as gargalhadas gritadas na noite não espantam mais essa dor fina e funda
Uma flecha dos élfos que não tem peso mas fura e esfria exatamente o ser de todo instante

Quando desço a serra lembro mas aprendo
“Tire o peso do caminho de você”
Só dou esse passo, depois outro e mais este outro
Não preciso carregar todo o caminho comigo
Tristes seres amaldiçoados pelo tempo
O tempo que entra em nossas mentes e nos seca a paz
O tempo que fundo no coração enche tudo de preocupação e solidão
Tristes seres que não podem apenas viver cada momento
Mas preocupados com o que nunca vai existir definham melancólicos e vazios

Aprendo descer subindo sem esforço
E quando sei, um sorriso vai nascendo
E no rosto um brilho que ninguém vê nem compreende
E ninguém vendo vai apagando, pois brilho nenhum serve para ninguém ver
e a melancolia vai renascendo, o sol virando lua, o calor entristecendo
Junto de todos, a solidão maior e o caminho pesando novamente
Incertezas querendo seguranças, pois a paz já se foi seca pela flecha élfica
que mata que seca e definha a paz quando deixamos o eterno e o tempo vai entrando na alma
O outono vai se impondo na alma, só isso
Se ele vem em toda essa natureza, por que minha alma estaria livre disso?
É só o ritmo natural de nossa Terra, só isso
Não é para ter um sentido nenhuma utilidade, é só o que é, só isso
Não se livra disso por uma situação, por uma pessoa, sentimento nenhum nos livra disso
Por que é o ritmo do nosso planeta, só
Os elfos da natureza não nos querem mal, só fazem a natureza entrar na nossa alma sempre, apenas isso
E sua flecha agora é melancolia outonal por que é esse o momento disso, é só
Esse mesmo frio que nada aquece, nem lareira, nem lar, nem cordilheira, nada
Vai fazer crepitar a brasa do que se acende no peito do homem que vive e pensa que sabe que vive
E pensa que sabe que morre, por que pensa que sabe que pensa, mas é tão natureza como qualquer bicho que ele pensa que não sabe de nada
E esfria na hora de esfriar, não é constante nem um eterno marchar para um futuro sempre distante
Nem um lutar, nem um sentido, nem um querer podem matar o império do instante
pingando atrás do outro instante e seguindo pingando seu pingo frio em nossas cabeças
Não é isso nem toda a filosofia do universo que o vai livrar de cada instante
Nem vai abrir um guarda-chuva pra te salvar desses pingos de vida caindo incomodando
A vida outonal é essa não existe esperança só um deserto frio, agora
E é esse mesmo o único paraíso constante que nunca sai nem morre nem apaga ou escorre pelos dedos
Mas eu fujo dele por não ser capaz de o compreender
E fujo do que não compreendo inventando palavras que definam cada instante
Só porque não sei apenas sentir o frio e depois o calor, sem querer no frio um calor, ou no calor uma brisa refrescante
Só porque também vivo amaldiçoado pelo tempo que não existe, mas só na minha mente existe
Só porque lembro do que não existe e o caminho então pesa todo ele de novo agora
E a pena leve de cada momento vira o pesado madeiro subindo a caveira do tempo
E a beleza pura vira a esperança amaldiçoada pelas garras do desespero
E a água limpa que desce da mina viva, se transforma num dilúvio gelado sufocando a paz

Até que novamente o caminho saia de minha cabeça
E eu suporte não compreender nada
E eu aprenda a liberdade de não aprender nada
E o eterno surja numa manhã gelada da alma
E a leveza pureza beleza fique pelada na minha frente
dentro de mim na minha mente
em cima de mim na minha frente
em todo lugar seja apenas outono, sem luta, sem nada
Apenas o que é a natureza terrena feliz por isso, só isso
E então sem peso uma flecha sai do meu próprio viver visível
e vai por todas as direções no mesmo momento belo e incompreensível
atingirá todos os elfos do universo e comungaremos do que existe
e seremos universo, somente isso
sem esperança, sem lembrança, somente a criança brincando com as pedrinhas no chão, e se divertindo com um papelzinho voando no ar ou rindo de pular uma onda no mar
ou de qualquer coisa rindo, mas também chorando se algo lhe machucar
somente essa vida incompreensível que vem e que vai e por isso é bela
somente ela assim totalmente imprevisível e indefinível é que existirá para sempre então

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

a imortalidade é a pior das verdades

10:20 AM  
Blogger Eu* said...

Lindo o texto. Muito simples e ao mesmo tempo muito sofisticado. Natural.
bjs

4:11 AM  

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