Friday, September 21, 2007

quinto império - o momento eubiótico (incompleto)

Introdução

Hegel fez um estudo detalhado, infelizmente não acabado, da manifestação do espírito, em que descobriu a dialética como o movimento e a própria lógica dessa manifestação. Com base em suas descobertas ele nos mostra quatro estágios – a que chama de impérios – marcantes quanto aos diversos momentos específicos em que tal espírito se concretizou até agora.

Vou tentar explicar um pouco cada um destes estágios, buscando facilitar a compreensão deles, a fim de aclarar o contexto que torna compreensível o momento atual e o imediatamente futuro, que é o quinto império, o eubiótico, em que o espírito integraliza-se com a Natureza, numa realidade orgânica.

Antes somente é necessária uma brevíssima explicação acerca da dialética assim como ela foi visualizada por Hegel.

O movimento dialético é essencialmente orgânico. No desenvolvimento necessário de um organismo, quando um novo órgão vai surgir ele se apresenta inicialmente como oposição, como um mal. Isto é natural, pois se o organismo havia atingido a homeostase, o auto-equilíbrio, dinâmico, um acoplamento satisfatório com o meio, quando o novo surge, num desdobramento de si mesmo, ele o faz necessariamente atrapalhando – num primeiro momento – este equilíbrio. O novo quebra o equilíbrio. Assim, Hegel vê que o novo surge como uma antítese, aparentemente contrária à “tese” que é o antigo equilíbrio. No entanto, esse novo que surge vai trocando, por assim dizer, a relação de oposição pela relação orgânica, e, uma vez que ele se mantenha vivo dentro do organismo em si, ele vai acabar sendo conduzido ao seu lugar, vai encontrar sua função, e vai se acoplar funcionalmente no todo, tornando-se então com o organismo, um todo orgânico.

Assim acontece todas as vezes que o organismo vai especificar uma nova faceta de si mesmo:

“A opinião não concebe a diversidade dos sistemas filosóficos como o progressivo desenvolvimento da verdade, mas na diversidade vê apenas a contradição. O botão desaparece no desabrochar da flor, e pode-se dizer que é refutado pela flor. Igualmente, a flor se explica por meio do fruto como um falso existir da planta, e o fruto surge em lugar da flor como verdade da planta. Essas formas não apenas se distinguem mas se repelem como incompatíveis entre si. Mas a sua natureza fluida as torna, ao mesmo tempo, momentos da unidade orgânica na qual não somente não entram em conflito, mas uma existe tão necessariamente quanto a outra; e é essa igual necessidade que unicamente constitui a vida do todo.” – (Prefácio de “Fenomenologia do Espírito” de Hegel)

Esse é o movimento dialético para Hegel. Assim não é, como quiseram os marxistas após, uma “luta” em que o oprimido passa a ser dominante, mas sim uma especificação, em que o organismo se especializa num novo órgão, que somente em princípio se lhe apresenta como oposição, para logo então tornar-se o que sempre foi na verdade, ou seja, um aprimoramento e melhoramento do próprio organismo. Ou seja, uma nova competência desse mesmo organismo, que se vê melhorado, em uma nova síntese.

Na dialética verdadeiramente hegeliana, a antítese é uma oposição somente aparente, não real. Logo ela se mostra como colaboração para um fim único: a síntese.

Da errada idéia de disputa, de conflito entre opostos, é que surgiu a noção, por exemplo, no processo judicial, de contraditório como um embate entre visões antagônicas, e que leva, na prática, a advogados achando que podem ser inclusive desleais processualmente na busca de atender os interesses de seus clientes. Corroborando com a visão hegeliana, hoje já se nota que esta deslealdade processual, que muito bem caberia em uma dialética baseada na mera “luta”, é irracional e não leva a nada, ou leva ao erro e à própria ineficiência de todo o sistema processual. Ao contrário, vai-se percebendo que a lealdade entre as partes nasce do princípio que sua posição antagônica e dialética serve ao fim comum a ambas de localizar, na síntese, a solução justa, que será enfim, a racional e socialmente pacificadora.

Assim a aparente oposição dá lugar, na sentença, à orgânica, racional e justa composição de interesses do direito, em que o próprio organismo social se vê fortalecido pela afirmação concreta da racionalidade, que torna a materialidade concreta algo não contingente ou arbitrário, mas sim capaz de previsibilidade e segurança, dando então ensejo à vitória da razão sobre a força, e assim, da liberdade sobre a opressão.

Outro exemplo da errada concepção de dialética é a que existe no pensamento marxista, em que a dialética também é vista como mera oposição em que dois lutam e que um vence, criando algo novo.

Assim o oprimido de hoje, em luta dialética com o seu opressor, será o opressor de amanhã, quando se tornar a nova classe dominante.

Assim, a classe operária, como a burguesa de outrora, lutaria e se livraria do jugo dos burgueses de hoje. Erra duplamente o marxismo. Em primeiro lugar, os burgueses de outrora não compunham o todo orgânico do feudalismo, eram um corpo estranho e realmente marginal ao feudalismo. Enquanto os operários só existem, só o são operários, por existirem como realidade necessária DENTRO do contexto orgânico da burguesia. A burguesia feudal não contribuía em nada para a existência do feudalismo, enquanto a vida burguesa capitalista não existe se não existirem os operários. Assim não há o paralelismo histórico que Marx idealizou convenientemente em sua época.

Para ficar mais claro, os burgueses do mundo feudal teriam como paralelos na realidade história de hoje contingentes sociais que estivessem à margem do ciclo produção – consumo – acumulação – redistribuição, via estado do bem estar social. Seres estranhos a este sistema, que é o capitalismo, é que poderiam ser os herdeiros dos burgueses da idade média. Quem seriam tais “marginais” senão os miseráveis, que nada consomem nem produzem ou os bandidos, que quebram o ciclo de acumulação-redistribuição? Assim vemos que em nada os operários conflitam com os capitalistas, mas sim os marginais com a “sociedade”. Aí existe real oposição.

Por outro lado, se dialética fosse mesmo uma mera relação de oposição que, pela luta, destrói o velho e constrói revolucionaramente o novo, com queria Marx, então os bandidos e miseráveis de hoje iriam se erigir em uma nova classe dominante de amanhã. Mas aí estaríamos diante de um futuro em que a própria racionalidade já alcançada e concretizada como direito, em que não é o mais forte, mas o mais justo, o mais certo que vence, estaria perdida, e então, realmente teríamos um enorme retrocesso, e cada um teria que se armar o mais que pudesse, para se defender, para matar, para tornar o mundo inteiro tão habitável e agradável como os feudos modernos que se tornaram as favelas do Rio.

Percebe-se como aí também a dialética não teria qualquer racionalidade se vista da forma como Marx a interpretou.

Por outro lado, se concebida tal como originalmente o fez Hegel, a dialética existe sim entre capital e trabalho, mas não para se perderem em lutas revolucionárias – que, diga-se de passagem, nunca ocorreram, a não ser por força de muita propaganda ideológica – mas sim para comporem-se em nova realidade orgânica, numa homeostase que, em verdade, já produziu seu fruto que é o nosso mundo atual, do direito e do consumo.

Se algo novo virá, ele não vem, aplicando-se aqui a correta noção de dialética, pela intromissão de algo de fora em oposição com algo de dentro, em lutas e necessárias revoluções, mas sim pelo próprio desenvolvimento orgânico do capitalismo, que especifica novas realidades de si mesmo, exteriorizando-as em contingentes sociais novos, os quais, a princípio, se lhes mostram como oposição, mas que, logo após, resolvem-se em novas sínteses, não destruidoras do capitalismo, mas sim conduzindo-o a um novo momento, em que talvez, alguém não possa mais reconhecer totalmente o velho capitalismo, mas necessariamente o reconhecerá como seu herdeiro natural.

Na dialética hegeliana, enfim, não há uma ruptura, uma destruição por si mesma, mas uma sucessão natural, uma hereditariedade necessária e orgânica, um aperfeiçoamento.

Assim, como ele mesmo compara, uma planta nasce de sua semente, lança seu pequeno tronco e se espalha em folhas, futuramente abre-se em flores que, mais a frente perderão suas pétalas e se expandirão em frutos, e deles, novas sementes. Aquele que se contenta com a mera materialidade das coisas, se vê este mesmo movimento em ponto maior como na sociedade, veria oposições em lutas revolucionárias, como Marx, mas Hegel – e qualquer pessoa que perceba a racionalidade desse desenrolar – percebe a unidade entre os vários momentos pelos quais passa tal organismo. Assim, semente, tronco, folhas, flores, frutos e novas sementes são apenas momentos necessários e sucessórios de um mesmo todo, a planta em si.

Estes momentos necessários e sucessórios do espírito Hegel os estudou de diversas formas e pontos de vista. Para nós aqui interessará agora o ponto de vista histórico, ou seja, os quatro impérios, que Hegel descreveu, para que nós possamos entender a sua sucessão, o quinto império, eubiótico.







1) O Império do Oriente:

“O primeiro império é a visão substancial do mundo, visão indiferenciada, proveniente do agrupamento natural patriarcal. Para esta concepção, o governo do mundo é uma teocracia, o chefe é o sacerdote supremo ou um Deus, a constituição e a legislação são a religião, os mandamentos religiosos e morais ou, melhor, os costumes são leis jurídicas garantidas pelo Estado. Neste conjunto, a personalidade individual desaparece sem direito, a natureza exterior é imediatamente divina ou ornamento de Deus, e a história da realidade é poesia.”

De início é importante ressaltar, a fim de que se possa especificar melhor o que vou descrever depois, que a “eubiose” vivida dentro da Sociedade Brasileira de Eubiose hoje, e muito do que se vê fora dela também, limita-se a este primeiro momento de compreensão, que é o mais superficial, e na metodologia própria de uma pretensa iniciação em “estágios”, corresponderia ao grau “manú”, ou seja, aquele em que a pessoa toma contado com a verdade apenas em seu aspecto externo, que é o simbólico, o seu mais externo e superficial aspecto, e projeta, no campo da imediatidade da natureza exterior, toda a sua pretensa “realidade”.

Desta forma também os antigos somente podiam perceber a verdade como esta visão “substancial do mundo”, que nada mais era do que a sacralização de tudo, e a dogmatização do pensamento. Se tudo, por um lado, realmente é sagrado, qual é a implicação disto na vida do homem? Neste primeiro momento a conseqüência da descoberta do sagrado domina de tal modo a visão daquelas pessoas, que a conseqüência era a anulação da personalidade individual.

Via-se a ordem necessária e divina em todas as coisas, mas, ainda, não se era capaz de agregar a esta visão do sagrado “em torno de si” o sagrado “em si” dentro de cada um, ou seja, não se poderia ainda perceber qual era a real posição do homem neste sagrado, neste substancial ao redor. Isto porque, podemos dizer, que neste primeiro momento, o homem ainda não era capaz de apreender o conteúdo de si mesmo, ou seja, não era capaz de perceber a essência do humano, do ser um ente humano, e por isso mesmo, não era capaz de ver a “mediatidade” divina, ou seja, Deus agindo por meio do humano, em última análise, por meio da inteligência e da mente do humano.

Por isso mesmo não havia aí ainda a racionalidade, (“a história da realidade é poesia”) pois esta é própria do conteúdo essencialmente humano, que ainda não era apreendido pelas pessoas de então, e a personalidade individual desaparecia necessariamente sem direitos.

Na SBE o mesmo acontece. E por isso mesmo não há ainda lá espaço para o livre pensamento, pois este rompe com um governo teocrata, um chefe sacerdote ou mesmo alguém como expressão absoluta de um Deus.

“As diferentes funções que na orientação dos costumes, do governo e do Estado se desenvolvem passam a constituir, por intermédio de um simples costume que substitui a lei, cerimônias demoradas e complicadas, cheias de conseqüências superticiosas, sujeitas aos acasos do poder pessoal e da dominação arbitrária.”

Mais uma vez o exemplo da SBE será elucidador. Em época anterior, quando lá havia JHS, havia rituais que nada mais são mesmo que estas cerimônias descritas, mas tais eram, em verdade, exposições (no sentido Hegeliano: ‘exposição’ é “a apresentação da coisa na qual o seu conteúdo e a sua universalidade se unificam no momento de sua autocompreensão no conceito. Opõe-se a ‘representação’, que permanece exterior à coisa.” Nota de rodapé da Fenomenologia) de realidades da própria vida espiritual, que eram apreendidas com o elemento essencial humano, que é a inteligência e a razão, mas em sua mais alta expressão, sua mais evoluída manifestação, como “Revelação”, ou seja, concretização em ato da plena clarividência espiritual.

Quando esta verdadeira chama de luz e movimento universais, que é JHS, deixa a SBE, o que sobra ali é apenas o seu rastro, ou resultado, que nada mais é que um cadáver das tendências geradas no passado, e então é que as suas cerimônias ritualísticas precipitam-se do que havia de mais avançado na mente humana, para o que há de mais primitivo nela, ou seja, as descritas “cerimônias demoradas e complicadas, cheias de conseqüências superticiosas, sujeitas aos acasos do poder pessoal e da dominação arbitrária.”

Precipitam-se tais costumes, na SBE, da expressão daquilo que de mais evoluído pode ir o humano, que em termos eubióticos pode-se chamar de “inteligência ak ara belina”, para um estágio pré racional, que dá ensejo a estas arbitrariedades de certo e errado conforme o desejo de uma autoridade que assim o diz, sem consciência de qualquer conteúdo verdadeiro em si e por si mesmo, ou seja, de qualquer racionalidade que bastasse-se a si mesma independente da vontade pessoal de qualquer pessoa que se arrogasse o título de sucessor do divino, sem, na verdade, ter sido capaz da extrema racionalidade e inteligência que realmente define o divino.

“A divisão em classes adquire a rigidez natural das castas. No estado oriental só é vivo, então, o que está voltado para o exterior; em si mesmo, nada é estável e se alguma coisa há de firme logo se petrifica. É uma tempestade e uma devastação elementares. A paz interior é a vida privada e a entrega à fraqueza e ao cansaço.”

Quando não se é capaz de apreender a racionalidade própria de cada coisa e do mundo em geral, não há nada mais que esta vida completamente voltada ao exterior, em que a estabilidade não existe, pois seria da compreensão da racionalidade própria de cada coisa que haveria a estabilidade do conhecimento das leis que regem cada fato, cada aspecto da realidade. Somente de posse da consciência destas leis, o que só a filosofia pode gerar, é que o homem está livre do arbitrário, ou seja, do poder o arbítrio de alguém que se imponha pela coerção. Por isso, somente o homem consciente é que pode ser livre.
Por outro lado, à falta da consciência da racionalidade presente nas coisas em si mesmas, quando alguma coisa se firma ela não tem a mobilidade natural desta mesma razão, que por si mesma é dialética, como comprova Hegel e o verdadeiro pensamento eubiótico de JHS confirma, quando ali se refere à Lei da Polaridade. Ao contrário, nesta “tempestade e devastação elementares” a que está a mercê o homem desprovido da consciência do racional em si das coisas, a necessidade de estabilidade é tão grande que qualquer coisa que se firme logo se petrifica, se torna pedra, sem movimento, sem vida, sem possibilidade de continuar se desdobrando em novas facetas e momentos orgânicos de si mesma.

Muitas vezes ouvi a frase dita a plenos pulmões dentro da SBE, “estamos firmando a Obra do Eterno na Face da Terra”, e então compreende-se a necessidade daquela estabilidade conceitual que não foram capazes de construir, e também porque tal “firmar-se” se tornou um petrificar, imóvel, avesso à quaisquer mudanças, tirano e morto.

“Nota- O momento da espiritualidade ainda substancial, ainda natural na formação do Estado – momento que, como forma, constitui o ponto de partida absoluto na história de cada Estado -, foi definido com muita inteligência e muito saber na obra do Doutor Stuhr, Da Decadência dos Estado de Natureza (Berlim, 1812). Com este livro, ficou aberto o caminho para o estudo racional da constituição e da história em geral. Nele se indica também o princípio da subjetividade e da liberdade consciente na nação germânica; como, porém, o livro termina com a queda dos estados naturais, este princípio não é levado para além do ponto em que aparece, por um lado, como inquieto dinamismo, humana arbitrariedade e princípio de destruição e, por outro lado, como forma particular de sentimento, não se desenvolvendo, portanto, até à objetividade da substância consciente de si, até à organização jurídica.”

Quando Hegel se reporta à nação germânica ele o faz em referência a tudo o que houve na Europa e que se espalhou pelo mundo todo, ou seja, o Quarto Império, que ele chama de “Império Germânico”.

Estes “impérios” nada têm a ver com países que procuram se impôr aos outros, etc. São o império de um modo particular de pensar e de ser, de um modo de ver o mundo, que em momentos sucessivos vão se desdobrando, ou seja, é a própria vida orgânica do conceito, diferenciado-se continuamente e erigindo-se em um organismo cada vez mais complexo em sua concreção e simples em sua consciência de si mesmo.

Como já disse, Hegel descreve tais desdobramentos até o Quarto Império, e nós hoje, após as lições da história e à vista das noções eubióticas expressas por JHS, podemos descrever o seu quinto desdobramento.

2) O Império Grego

“Do anterior herda este aquela unidade substancial do finito e do infinito que, porém, é para ele apenas uma origem misteriosa, uma reminiscência obscura mergulhada na sombria profundidade das imagens tradicionais.”

Ou seja, o tal unidade substancial do finito e do infinito, que dominou o primeiro império, é para o segundo uma reminiscência mítica, mera tradição dos “tempos antigos”, cheia de realismos fantásticos e carregada de uma profundidade que, entretanto, não são eles ainda capazes de compreender, razão pela qual se lhes apresenta ainda obscura e sombria.

“Quando o espírito se diferencia para atingir a espiritualidade individual, este princípio é iluminado pelo saber, tornando-se medida e claridade na beleza e na moralidade da liberdade e da alegria.”

É neste ponto que o homem se dá o direito de pensar o mundo ao seu redor, pois pressente em si mesmo esta chama de poder que nasce do espírito. Diferente do passado, em que tal chama apenas era compreendida no mundo (no seu em torno), agora ela já pode ser vista dentro, mesmo que ainda de forma débil e primitiva. Não é a toa que o homem da Grécia que dá origem ao pensar no sentido do filosofar ocidental.

É o início da luz do saber, que torna possível, ao menos individualmente, a liberdade e a alegria, que toma do lugar daquela “paz interior” da “fraqueza e do cansaço”, que havia no Primeiro Império. Isto porque é de tal saber que surge a medida, ou seja, o critério firme por sua própria racionalidade e portanto, independente da arbitrariedade de um poder divino insconsciente e imediato.

Vê-se aí o início do desdobramento do meramente natural, conseqüência imediata e cega das forças da natureza, ao espiritual, que caracteriza-se pela consciência, racionalidade e conseqüente liberdade.

Interessante perceber que é exatamente neste momento em que surge a filosofia que também temos a manifestação artística como expressão da beleza. Ou seja, nada mais que o homem iniciando a sua compreensão da ordem cósmica, a um só tempo racional e bela.

“É nesta determinação que se manifesta o princípio da personalidade individual. Ainda não está ele nas mãos de si mesmo, mas permanece em sua ideal unidade.”

Ao contrário do que ocorria no Primeiro Império, em que a personalidade individual desaparecia sem direitos, é quando o homem começa a captar a racionalidade inerente das coisas que ele começa a afirma-se a si mesmo em meio às coisas, ou seja, inicia-se aí a vida individual. Mas a consciência disto ser um direito, ou seja, de esta vida pessoal estar em suas mãos, e ao indivíduo ser inerente o direito de determinar-se a si mesmo, tal consciência ainda não está presente, e, existe, mas apenas no plano do ideal. Por isso que para o homem grego são os deuses que comandam o destino dos homens. Eles (deuses) lá de seu panteão, de sua idealidade, é que comandam nossos encontros e desencontros, nossas venturas e desventuras. O poder de determinar a própria história ainda não está concebida para o homem de então.

“O conjunto divide-se, por um lado, em círculos de povos particulares, cada qual com o seu espírito e, por outro lado, a suprema decisão da vontade não se situa na subjetividade da consciência de si, mas num poder que é mais alto e está fora dela; enfim, a particularidade das carências ainda não é admitida na esfera da liberdade, mas repudiada para uma casta de escravos.”

Cada localidade acaba se aglutinando em torno de uma determinada particularidade da racionalidade em si existente. É que neste início, como a unidade que vem do universal ainda não é passível de ser captada, não há como intercambear os diversos aspectos da realidade que foram de fato captados e parcialmente compreendidos. Surgem então as cidades-estados gregas, cada qual reverente a um aspecto da racionalidade do mundo, que ainda é vista como um poder mais alto e longe da subjetividade de cada pessoa em particular, ou seja, aspectos da verdade tidos como entes divinos em si mesmos, cultuados em templos e cerimoniais, esculpidos em estátuas, como se o fora em “honra” a determinados “deuses”. Nestes “deuses” é que se vê o poder de movimentar o destino.

Quando Hegel fala em particularidade das carência refere-se ele às demandas da vida material, ou seja, carências no sentido de necessidade de coisas materiais, não tem nada a ver com carência no sentido afetivo.

Neste Segundo Império, o trabalho do qual surge a satisfação destas necessidades materiais (carências) não é ainda compreendido dentro da esfera da liberdade, porque neste momento não é ainda possível a compreensão de uma vocação particular de cada pessoa em si, já que não se compreende a possibilidade de uma pessoa determinar-se a si mesma, o que é condição preliminar para compreender a possibilidade de “realização pessoal” ou seja, de felicidade aliada a uma vida produtiva dentro da concretização do que é particular e substancial para cada indivíduo. Isto, que é a base de um trabalho livre, e que tem por ponto inicial a consciência do direito de determinar-se, e, conseqüentemente de “ser feliz”, não era ainda compreendido pelo homem de então.

Por isso mesmo o trabalho era apenas uma limitação, algo existente por força das necessidades materiais, e não expressão da liberdade de realizar-se a si mesmo, de expressar a própria substância, aquilo que, em cada um de nós, constrói a noção de sermos especiais frente ao mundo. Em conseqüencia, era algo menor, algo necessariamente repudiado a escravos.





O MOMENTO EUBIÓTICO – O Quinto Império

É natural que quando o homem suprime do presente, do agora e do aqui, a barbárie e o injusto alvedrio, ou seja, o império do caos, da instabilidade, do não saber o que pode ser o logo após, e, além disto, suprime também, da verdade, o que ela tem de além, de distante, de incognoscível, bem como o que dela poderia vir como um poder contingente, teocrático, avassalador, é natural, neste momento em que então o homem faz em si mesmo, dentro de si mesmo, a conciliação entre a natureza divina e humana, que passam a integrar o seu próprio ser interior, e que, somente aí, consegue, na religião representar uma verdade que é sua, que é sua própria essência, e na ciência essa mesma verdade aparecer como conhecimento livremente concebido, neste momento, enfim, é natural que o homem, vencendo as vicissitudes e contingências que até então as limitações de sua própria consciência espiritual lhe condenavam, passe a ter o poder concreto, em suas mãos, de “dominar” as forças da natureza, e, neste momento, não poderia mesmo ocorrer outra coisa senão o homem ver a natureza como um objeto.
Neste momento é que hoje nos encontramos.
Momento em que o espírito, após degradar “a existência do seu céu ao nível de uma presença terrestre e de uma laicidade comum”, e elevar, por outro lado, o elemento temporal a uma existência abstrata, “até ao pensamento e ao princípio do ser racional”, ou seja, de ser capaz de trazer as representações celestiais ou “nirvânicas” de felicidade ao “ser feliz agora” e de começar a “pensar a realidade e a natureza” a fim de descobrir-lhe suas leis e princípios, e o fazendo, inclusive, na esfera da convivência entre si mesmo, coletivamente, na figura de pensar o direito, as leis, criando um mundo jurídico, enfim, que, enfim substituiu o meramente heróico e contingente do passado, momento este então que o espírito é finalmente capaz de mostrar o seu poder, não mais em meras representações, mas “em ato” concretamente, não só para poder fazer coisas até então inimagináveis com a natureza, pois ciente de suas leis, mas também para começar a tornar possível, e, logo então, exigível, uma vida em sociedade, ou seja, uma vida humana coletiva harmônica entre as pessoas, em suas liberdades, em suas igualdades e diferenças respeitadas, assim como exigível que a todos seja possível livrar-se das contingências que naturalmente sempre avassalaram o homem e sua vida concreta.

O espírito, quando então, é capaz de gerar estes valores como realidades exigíveis, demonstra ele, e não somente o homem em si, finalmente, sua superioridade frente a mera natureza. Mas aí mesmo é que ele se mostra erroneamente, mas necessariamente, como um sujeito frente à natureza, mero objeto, quando, na realidade, não o é.

Neste momento em que o espírito é capaz de se mostrar concretamente como um sujeito, capaz de agir e de se elevar frente a natureza, é que surge o que poderíamos chamar, dentro de uma linguagem hegeliana, de império europeu, ou como ele dizia, germânico.

Espero que esteja claro como este momento ocorreria fatalmente.

Mas agora o espírito depara-se com um novo momento, na verdade, mais um passo em seu próprio desenvolvimento orgânico, em que a realidade se especifica ainda mais e que esse novo aspecto dela que se revela, e como sempre acontece quando algo novo aparece, esse novo detalhamento da realidade se apresente como um mal.

O espírito começa agora a perceber, através do mal que causou no momento em que descobriu e pode usar o próprio poder, que ele em si mesmo não é um mero sujeito em oposição à natureza, seu objeto, mas é verdadeiramente um momento orgânico dessa mesma natureza. Usando de uma redundância necessária para se explicar isso, o espírito está se descobrindo como um órgão dentro de um organismo, e não um sujeito separado e manipulador de seu objeto.

É este o momento, em que o homem como realidade concreta do espírito, em sua face de atividade, de agir, terá pela frente os desafios que, se vencidos, o levarão a reintegrar-se com a natureza, ou, a bem da verdade, a integrar-se pela primeira vez com a natureza, já que anteriormente não se tratava bem de uma integração, mas sim de uma dominação que a natureza exercia sobre o homem, e, por via de conseqüência, sobre o espírito.

O espírito que se faz um agente dentro da natureza, não mais também ela, como agora, algo dominado e contingenciado por ele, mas já então, numa nova síntese, com já dito, estabelecida uma relação órgão-organismo, tal espírito assim consciente e concretizado é que traz nessa sua concretização – poderíamos arriscar dizer, ao menos em relação ao planeta Terra – final, ele traz o Estado completo, ou em seu momento eubiótico.

Isto por que a Natureza já não mais oprime, como no momento do estado natural, ou é oprimida como no estado moderno, mas vê-se a si mesma refletida e potencializada infinitamente pelo espírito que torna-se consciente de si, ou seja, em resumo é a própria natureza que torna-se, ela mesma então, concretamente e individualizadamente consciente de si mesma.

Claro que a passagem de um momento para outro, em que, em última análise a própria natureza vai se auto-organizando, ou seja, movimento este de auto-organização a que podemos praticamente chamar de Espírito, é natural que estas passagens se dão através de pontos de aleatoriedade absoluta, ou seja, portais sombrios (umbra= sombra e umbral) em que tudo pode acontecer, chamados de pontos de bifurcação, onde somos chamados novamente a tentar sobreviver a um grande “solavanco” que tanto nos pode destruir, como nos pode elevar ao próximo estágio deste desenrolar da própria vida do planeta.

Se ultrapassarmos esse portal e formos capazes de superar este estágio de infinito antagonismo espírito-natureza, chegando ao momento eubiótico, veremos um Estado ainda mais livre e racional que o atual, longe, talvez, das grandes cidades cartesianas, ou das enormes ecatombes sociais e naturais, e muito mais perto de um sentimento de dever frente a esta mesma natureza, em que as pessoas busquem em si mesma, em suas próprias diferenças, o que as especializa, as torna, dentro do gênero universalizante do humano, algo substancialmente diferenciado e especial, e portanto, dever esse de desenvolver suas próprias vocações, não para a mera realização pessoal a que chamamos hoje de felicidade, mas principalmente para a realização de todo o planeta, já então agora, visto, dentro de nossas próprias e humanas mentes, como um ser vivo e consciente de si, pois assim cada um de nós é, e nós, órgãos desse mesmo organismo, assim necessariamente veremos ao próprio organismo.

Possivelmente, disse que este seria o último estágio do desenvolvimento do espírito na Terra, pois aí então não é mais o homem uma espécie inteligente dentre de um cenário azul, ou de uma nave mãe ou mesmo de um planeta privilegiado, mas já então é a própria Terra que por nós será reconhecida como um planeta inteligente e vivo, em contraste com outros planetas, ou mortos, ou ainda em estágios ainda não merecedores dessa qualidade de inteligentes, pois que seus próprios espíritos ainda em estágios incipientes, incapazes de concretizar “em ato” seu poder e seu dever frente à natureza que lhes alimenta.

Neste estágio talvez inicie uma nova etapa em que provavelmente – se elas existirem – se manifestarão para nós inteligências de outros planetas e novos desafios surgirão em nosso horizonte terreno. Usando agora uma linguagem própria desse novo momento terreno (eubiótico), uma vez que a Terra seja capaz de se auto-equilibrar conscientemente e inteligentemente, ela provavelmente seja alçada para uma nova categoria dentro de uma coletividade interplanetária, e então, seja chamada a tornar-se consciente desse nível de realidade que vai além do âmbito de nossa própria esfera azul.

Ousando um pouco mais ainda, podemos dizer que o primeiro estágio desse novo momento será o de descobrir novos mundos dentro de nosso próprio planeta, pois, se um dia existir para nós uma realidade extra-terrena, ela não seria fisicamente possível através da tradicional tridimencionalidade, pois aí as distâncias são imensas e a velocidade e energia necessárias para vencê-las é limitada. Se tais realidade um dia se mostrarem a nós, terão suas portas abertas através de passagens intra-dimencionais, o que a física atual chama jocosamente de “buracos de minhoca”, capazes talvez de nos transportar por dentro de nossa própria tridimencionalidade.

Ou seja, estaremos no momento em que mundos interiores à nossa tridimensão se nos revelarão, com suas possíveis outras tantas características supreendentes. Este é o momento de Agartha e Shamballah, da tradição do oriente, ou mesmo das embocaduras e mundos internos. Somente então através dessas embocaduras, mundos internos, Badagas, Duat, Agartha, é que poderemos alcançar outros planetas, longas distâncias do nosso universo.

Muitos planetas, mesmo em longas distâncias, mas já eles todos auto-conscientes, concretizarão o espírito, não mais em suas esferas particulares, mas já então como realidade última e verdadeira, universal não meramente ideal ou abstrata, mas concreta e imediata. O céu será aqui e agora, então.

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